Parei de fumar e resisti à todas as tentações

A minha amiga Gláucia (http://dihitt.com.br/usuario/glauciacarvalho) escreveu um texto sobre o fato de ter parado de fumar que achei interessante. Imediatamente resolvi mandar um recado à ela comentando isto mas, pensei bem, e resolvi escrever este texto que conta a minha experiencia em parar de fumar porque acho que assim contribuo melhor com a matéria. Acho também que, se todos os blogueiros ligados ao DiHitt como eu e ela, que sejam ex-fumantes, deveriam contar a sua história a respeito do drama que é parar de fumar pois, assim, criaríamos uma enorme quantidade de texto os quais, tenho certeza, seriam muito úteis para quem, neste momento está tentando parar de fumar e não consegue ou ainda não decidiu encarar o problema de frente e fica encontrando desculpas para adiar o começo.
No dia 2 de novembro de 2000, dia de finados, eu iniciei o meu projeto "parar de fumar" o qual até hoje está ativo ou seja, ainda não terminou porque ainda existem ameaças. Nestes 8 anos passei por muitas tentações e ainda passo. É muito raro um dia passar sem que eu lembre que sou ex-fumante. Eu ainda gosto muito de fumar e sinto uma falta terrível do primeiro cigarro do dia, aquele logo depois do café da manhã. Que delícia que era aspirar aquela fumaça saborosa e depois soltá-la lentamente, com calma, com ar inteligente, de quem sabia das coisas, que besteira!
Eu tenho 62 anos e sou de uma geração onde as pessoas eram praticamente obrigadas a fumar. Todos fumavam. Os homens porque eram homens e tinham que mostrar isto fumando, era coisa de macho. Os atores de cinema fumavam nos filmes e na vida privada, dando ao uso do cigarro um ar glamuroso e de sofisticação à coisa toda afinal, quem não queria ser igual ao Humprey Bogart, ao Cary Grant, ao Errof Flyn, ao James Dean ou ao Clark Gable, apenas para citar uns poucos? É claro que todos os homens queriam, então, a propaganda das fábricas de cigarro deitava e rolava nos bombardeando com uma mídia perversa dando, para nós todos, a idéia que o sofisticado e o bonito era fumar. Com as mulheres acontecia a mesma coisa já que não era difícil ver imagens de Marilyn Monroe, Grace Kelly e outras divas do cinema "puxando"o seu cigarrinho da bolsa e sofisticadamente, com gestos afetados, acendê-lo.
Foi neste época que cresci e, aos 13 anos, comecei a fumar. Fumei, ininterruptamente, durante 40 anos mesmo que, durante este tempo todo as coisas estivessem mudado bastante com relação ao cigarro que foi colocado como o vilão de uma série de histórias tristes, de mortes pavorosas e de outras coisas algumas verdades outras nem tanto. Durante o tempo em que fumei nunca tive vontade de parar e, aparentemente, o uso do cigarro não me fazia mal algum. Como nunca parei não tive recaidas por ter parado a não ser em alguns períodos difíceis que passei quando ficava sem dinheiro, não conseguia sustentar o vício e tinha amor próprio suficiente para não ficar pedindo cigarro para os outros. Nestas vezes eu parava compulsoriamente de fumar até que conseguisse dinheiro, coisa de uma ou duas semanas no máximo. É claro que eu sabia que um dia eu iria parar de fumar, todos os fumantes sabem disso, mas eu não parava e nem pensava muito sobre isso. Tinha porém uma coisa que eu, na condição de fumante, me incomodava que era o cerco armado contra que fumava. O fumo foi proibido de ser praticado de forma generalizada no país de um tempo para cá mas o que mais me atingiu foi a proibição em aviões, nas áreas internas nos aeroportos e logo depois nas áreas externas também. Eu viajava muito e ficava de saco cheio de não poder fumar por períodos prolongados uma vez que eu não admitia "ir lá prá fora prá dar uma tragadinha", porque achava isto um ato escravo com relação a um vício idiota. Então me rebelava, não achava justo que me tirassem o direito de fumar onde eu quizesse mesmo que dissessem que era para proteger a minha saúde porque acho isto uma hipocrisia porque, por exemplo, o uso do óleo diesel que libera gases tão maléficos quanto àqueles que o cigarro exala não incomoda agente de saúde algum. Porque, aquele juiz de Porto Alegre, antitabagista até a medula, não cria jurisprudências para acabar com o uso do óleo diesel pelos ônibus nas grandes cidadese e até nas pequenas, como fez com o cigarro? Eu não uso ônibus mas acabo sendo usuário "passivo" já que absorvo os gases que eles exalam e que colocam em risco a minha saúde e o juiz não faz nada, não me defende, porque será? É uma boa pergunta, ele que responda. Desta forma, quando percebi que todos os fumantes seriam colocados na condição de "párias" por uma turminha chata e inconveniente que ataca o cigarro mas não ataca o diesel, vi que eu tinha apenas duas alternativas:- parar de fumar ou me submeter ao que a turminha quisesse, então eu escolhi parar pois não consigo me submeter e ter que frequentar fumódromos, fumar na chuva e no vento ou apenas em casa como se estivesse fazendo uma coisa ilegal porque, é demais prá minha cabeça. No feriado de finados, como eu disse acima, resolvi enfrentar a fera. Eu não sabia o que ia acontecer mas sabia que eu tinha que ser muito firme. Sabia também que parar aos poucos não tinha dado certo com várias pessoas que eu conhecia porque esta história que hoje fumo apenas 3 cigarros e amanhã 2 não é uma boa estratégia porque esta aritmética, embora simples, confunde e de repente você estará somando e não subtraindo. O maior perigo, pensei, é encontrar desculpas para mim mesmo tais como "eu vou morrer mesmo então prá que parar?", "acho mehor deixar para o próximo feriado que é mais prolongado" ou outra qualquer. Não pode, pensei, tem que ser curto e grosso, é parar e não voltar, é o único jeito. Foi o que fiz. Parar de fumar é fácil, o difícil é não voltar então você deve se preparar para não voltar. Acho que aí está a razão do sucesso do meu projeto porque me preparei para não voltar e fiz isso mantendo aceso na minha memória o que eu chamo de "gancho" que é uma alça onde eu me agarro quando sinto vontade de fumar e lá fico agarrado até que a vontade vá embora. Este gancho é manter vívido na minha memória TODAS as razões que fizeram com que eu parasse de fumar no dia 2 de novembro de 2000. Por exemplo, na minha memória eu criei e mantenho lá a figura de um juiz, de toga e tudo, me condenando a fumar num fumódromo pequeno e mal cheiroso para sempre. Existe também a perplexidade com a perseguição ao fumo e a permissividade com o diesel. Existem diversas cenas que ocorreram comigo quando fumei em local proibido e vinha um guarda me lembrar que ali não se podia fumar, coisa humilhante porque as pessoas ficavam me olhando com um olhar de reprovação como se eu tivesse tentado mata-las com a fumaça de meu cigarro, não era necessário, a fumaça do diesel fará isso, com certeza. Vejam bem, eu acho que o fumo deve ser abolido do mundo porque não faz bem algum. No que me toca eu fiz muito bem em parar e só não paro de novo porque teria que voltar a fumar, coisa que sequer imagino. Tive também algumas "desvantagens". Hoje não exalo mais aquele cheiro de fumo às pessoas a minha volta. Os meus dedos não são mais amarelos como eram que pena, eu gosto tanto da cor amarela e nos meus dedos ela ficava tão bem. O meu dentista ficou zangado comigo porque os meus dentes hoje são saudáveis e ele passou a ganhar menos comigo. Não dou mais aquelas catarradas matutinas tão saborosas como dava antes de parar de fumar, que saudade. O meu peito não chia mais. Tenho mais disposição e vontade de fazer coisas que já tinha abandonado por falta de disposição. Engordei um pouco porque hoje a comida é mais saborosa e acabo comendo mais do que antes mas em compensaçào redescobri sabores perdidos. Que chato voltar a perceber o gosto de cada vegetal numa salada. O tomate, o agrião, o pimentão, a cenoura, os diversos alfaces têm agora o real sabor, para mim. Só consegui isso graças ao cigarro ou melhor à ausencia dele. Quero manter esta ausência ativa, custe o que custar. Se eu pude, você pode, por que não?

3 Responses so far.

  1. Anônimo says:

    Parabéns, Jeferson!
    Nunca fumei, mas conheço muita gente que luta e não consegue se livrar do vício e a frustração é visível.

    Muita força e que continue essa batalha que deve ser diária.
    Parabéns.

    Abraços

  2. Anônimo says:

    Obrigada pela atenção e pelo rico depoimento que você fez. Gostei da sugestão dos blogueiros escreverem sobre o assunto, vamos ver se “pega” :) Parabéns por deixar o vício dos cigarros e fica com um forte abraço. Feliz 2009

  3. Unknown says:

    Oi Jeferson!
    Parabéns pela sua postagem.
    Sou uma fumante inveterada e passo por todos os constragimentos que os fumantes passam nos dias de hoje.
    Meu pai fumou por mais de 45 anos e parou.
    Ler sua matéria me deixou mais entusiasmada em parar de fumar.
    Obrigada.
    Mil beijos e muita paz.