Reforma Ortográfica aproveitando a maré!
Já faz bastante tempo acompanhei no programa do Jô entrevista com João Ubaldo Ribeiro onde, entre uma tirada inteligente e outra, ele expôs uma teoria que achei muito interessante. Pena que as pessoas que criaram a reforma ortográfica que entra em vigor depois de amanhã, não tivessem visto aquele programa ou, pelo jeito de como as coisas ocorrem por aqui, não tivessem conversado com o João Ubaldo para que ele expusesse a sua teoria e assim contribuído magistralmente com a reforma. É claro que, se João consultado fosse, se correria o risco de que a dita reforma morresse no nascedouro face a sua total desnecessariedade mas, de qualquer forma, valeria o risco pois em qualquer caso nós brasileiros sairíamos ganhando pois, das duas uma: não teríamos que enfrentar esta reforma idiota ou, caso tivéssemos, teríamos o dedo do João Ubaldo nela e daí ela não seria tão idiota quanto.
Mas, voltemos a teoria do João Ubaldo que achei interessante. Dizia ele que na língua portuguesa, assim como tem o ponto de exclamação, de interrogação, etc deveria ter o "ponto de ironia". Este ponto seria para grafar claramente quando o autor de determinada frase está sendo irônico para que ele não corresse mais o risco de ser mal interpretado por quem o está lendo.
Concordo integralmente com João Ubaldo. Eu acho (não sei se ele acha) que o ponto de exlamação, por exemplo, é totalmente dispensável e o ponto de interrogação deveria, como no espanhol, ser colocado no início e no final da frase porque este ponto é o terror de quando estamos lendo para uma platéia um texto sem ensaio porque, quando vemos o ponto na frase já perdemos a oportunidade de dar o tom de pergunta à ela e daí nos confundimos, lemos a frase de novo com o tom certo, colocamos o tom no ponto errado ou, o que é pior, não damos o tom de pergunta à frase e acabamos mudando todo o sentido daquilo que estamos lendo. Veja se isto não ocorre com você.
O eventual ponto de ironia proposto poderia ser colocado no final da frase e é útil apenas quando estamos lendo e interpretando um texto para nós próprios mas, creia, ele é extremamente útil porque, como poderemos utilizar a ironia livremente em tudo o que escrevemos, teremos um estilo melhor, mais palatável e mais rico, com certeza.
A ironia é um sentimento humano extremamente importante. É com ela que, entre coisas, podemos ser cáusticos, engraçados e dissimulados naquilo que escrevemos mas temos que esclarecer o seu uso porque, caso isto não ocorra, todo o entendimento daquilo que escrevemos pode mudar radicalmente.
Ironia é uma coisa que já me incomodou bastante a ponto de atualmente eu ter abandonado o seu uso quase que totalmente. Eu a usava com frequencia naquilo que escrevia e naquilo que falava e não raro tive problemas com este fato. Quando você ironiza algo invariavelmente, está contando com duas coisas: 1) está sendo suficientemente claro para passar este sentimento ao seu intelocutor e/ou 2) o seu interlocutor tem a capacidade intelectual suficiente para detectar o sentimento expressado e irá tratar a coisa da maneira correta. Ambas as situações são dificeis. A primeira porque voce não tem como grafar de forma clara que está sendo irônico e isto pode confundir o seu interlocutor e a segunda porque você parte de um pressuposto que, na maioria da vezes, não é aplicável para o caso em questão ou seja, o pressuposto do qual você partiu está errado, o seu interlocutor não é capaz de entendê-lo.
Quer um conselho? Desista de usar a ironia tanto na linguagem escrita como na falada. Na escrita porque é pouco provável que os reformadores dêem ouvidos ao João Ubaldo o que fará com que você continue com as dificuldades que expus sobre a falta do "ponto" e, na falada, não tem jeito mesmo, a ironia é indetectável pela maioria dos seus interlocutores, melhor não usar. Não acredita? Teste e verá que tenho razão.
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