Duplo Engano - Conto


Embora ambientado em locais existentes na realidade, este conto é fictício portanto, qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais não passa de mera coincidência. 


Duplo engano

Parte 1 – O encontro

Curitiba, meio-dia, num quarto de pensão no centro da cidade

Carolina acorda sobressaltada. Quase não tinha dormido preocupada com o aluguel do quarto que não tinha conseguido pagar e o prazo final, dado pela senhoria, vencia no dia seguinte às seis horas da tarde. Bom, pensou ela, tenho mais de 24 horas para resolver o problema e vou resolver.

Pensou por mais alguns instante ainda deitada e depois, decidida, levantou-se. Tomou um banho demorado, colocou a melhor roupa que tinha e saiu para rua. No início ficou preocupada com a roupa que havia colocado e até pensou em voltar à pensão mas, depois pensou melhor e achou que deveria sair assim mesmo.

Preocupara-se com o fato da roupa ser muito “patricinha” e isto poderia dificultar o que pretendia fazer mas, por outro lado,  era fundamental que ela parecesse jovem, “patricinha” ou não, e isto ela estava parecendo.

A pensão onde morava não era longe do Shopping para onde queria ir e dava para ir a pé. Foi o que fez e, no máximo meia hora depois de ter saído, já estava sentada numa cadeira na praça da alimentação com um refrigerante à sua frente, ruminando o que ia fazer para arranjar o dinheiro.

Colombo, Grande Curitiba, duas horas da tarde, numa casa no Jardim Maracanã, quinze quilômetros de Curitiba aproximadamente

Marcelo estava se vestindo para sair. Havia acordado lá pelo meio dia, discutido com sua mãe por causa do almoço que ela não fizera.

Marcelo não agüentava mais morar com a mãe. Ele resolvera deixar de trabalhar na loja de calçados ali do bairro para começar trabalhar por conta própria depois que um amigo lhe dissera que, como garoto de programa, ele poderia ganhar até R$ 1.500,00 por dia se fizesse a coisa certa.

Até agora não se dera mal embora estivesse ainda longe dos R$ 1.500,00 que o amigo tinha dito mas, já tinha chegado a ganhar num dia o que demorara um mês para ganhar na loja ouvindo desaforos do patrão e dos fregueses. Chegaria o dia, pensou, que ele mudaria para Curitiba e teria o seu próprio apartamento.  

Portanto, com o trabalho tudo corria bem mas o difícil, era agüentar a mãe bêbada e preguiçosa que, par e passo, recolhia homem prá dentro de casa, sem cobrar nada. Talvez, pensou, se esta cadela pensasse em cobrar, talvez não conseguisse trazer ninguém até aqui.

Ele sabia que a mãe era um “canhão fedorento”.  Mesmo quando jovem, como ele viu em algumas fotos antigas, ela nunca foi nada que valesse a pena dar mais do que uma olhada. Não conseguia entender como que o pai dele, que ele nunca soube quem era e talvez nem a mãe soubesse, tinha conseguido um dia comer aquilo.

Está certo que ele, com a profissão que tinha, precisava encarar umas velhas carcomidas que eram de virar o estômago sendo algumas até piores que a mãe dele mas, isto era apenas na aparência física porque as velhas que ele comia eram ricaças que se vestiam bem e não cheiravam mal como a mãe que fedia a cachaça e a falta de banho.

Com a profissão que arranjara, Marcelo conseguia ganhar dinheiro e presentes caros. Podia então se vestir bem e logo, logo, do jeito como as coisas iam, deixaria de andar de ônibus porque a compra de um carro já estava nos seus planos. Vá que, como sonho que qualquer garoto de programa tinha, ele conseguisse arrumar uma cliente permanente. Estaria feito, a compra do carro seria fácil, isto é se ele não ganhasse um de presente. Quem sabe ele teria esta sorte?

Marcelo terminou de se vestir. Estava muito bem trajado. Calças jeans original de marca famosa, camiseta importada dos Estados Unidos com a estampa do time de baskete do Los Angeles Lakers, tênis de marca e uma blusa jogada nos ombros que combinava com a camisa e com a calça e que lhe custara bastante dinheiro.

Ele sentia-se bem. Tinha dormido quase 10 horas, tomado um banho rápido, usado talco e perfumes da mesma essência que fora presente de uma cliente e agora estava pronto para sair. Iria de ônibus para Curitiba, a um Shopping para ser mais exato, era lá que estavam as possíveis clientes. Hoje ele não tinha nada marcado, sua agenda estava vazia. 

2:30 hrs - Carolina no Shopping

Carolina já estava mais de quarenta minutos enrolando para beber o refrigerante. Não havia ainda passado ninguém por ali que pudesse ser útil aos seus propósitos. Apenas um homem lhe deu a impressão que poderia ser quem ela queria mas, a impressão logo se desfez quando ela viu que ele se dirigia para uma mesa onde estava uma mulher sentada à espera. O homem se aproximou, beijou a mulher, sentou e depois ficaram ambos de mãos dadas. Oram riam ora conversavam como dois namorados, olho no olho.

2:30 hrs – Marcelo no trajeto para o Shopping

                Marcelo tinha um problema que felizmente iria resolver hoje. Tempos atrás precisou de dinheiro para tratar uma deficiência de saúde que tinha e, sem saída, pegou emprestado de um agiota de Curitiba. Não conseguiu, no entanto, pagar a dívida no prazo combinado. Por causa disso, o agiota mandou dois cobradores atrás dele que o ameaçaram até de morte que, segundo eles, seria muito dolorosa caso a dívida não fosse saldada imediatamente.

Depois de muita conversa e gritos por parte dos cobradores, Marcelo deu todo o dinheiro que tinha com ele e se comprometeu pagar o saldo da dívida dali a sete dias e, assim, foi liberado sem apanhar. O prazo venceria amanhã mas, como já tinha conseguido juntar o dinheiro, pagaria hoje mesmo, queria manter as portas do agiota abertas para ele. 

Marcelo sabia que andar com dinheiro vivo era perigoso na região mas iria distribui-lo pelos vários bolsos que tinha porém, saiu sem fazer isto e esqueceu que o dinheiro para pagar o agiota estava todo no bolso direito traseiro da calça dele. Pegou o ônibus para Curitiba.

                Mais ou menos na metade do trajeto dois homens que estavam no ônibus deram voz de assalto. Portavam armas e um deles foi até o motorista e mandou que ele não parasse mas que fosse devagar. O outro homem foi em cada passageiro recolhendo carteiras, bolsas, relógios, dinheiro e o que mais existisse de valor, como anéis, pulseiras e correntes de pescoço e jogava dentro de uma mochila de estudante.  Chegando até Marcelo, pediu que lhe desse a carteira. Marcelo disse que não tinha carteira. O homem olhou para ele e disse “então me dá o que tem, rápido”. Marcelo disse que não tinha nada. O homem retrucou “tá zoando comigo cara?. Nesta beca e você diz que não tem nada? Vire-se de costas”. A contragosto Marcelo obedeceu torcendo para que o dinheiro que tinha no bolso  não fizesse volume suficiente para ser notado pelo bandido. Deu azar, porque o homem percebeu e retirou de lá o maço de dinheiro. “Não tem nada, safado?. Eu já tinha te manjado quando entrou no ônibus e vi que tu tava abonado. Agora o dinheiro é meu, otário. Agradeça por eu não te dar um tiro nas fuças por ter mentido prá mim. Não gosto de mentiras”.

                Depois de algum tempo, assim como começara, o assalto terminou. Os bandidos pediram ao motorista que parasse, saíram do ônibus e foram caminhando lentamente, sem despertar suspeitas para longe do ônibus e em direção a um carro estacionado. Marcelo não viu se pegaram o carro ou não porque o Motorista acelerou o ônibus e foi embora para longe dalí.

                Caralho, pensou Marcelo, foi toda a grana para pagar a dívida. - Enfiou a mão no bolso dianteiro, tirou o que tinha lá e contou, R$ 210,00 em notas e algumas moedas, poucas moedas. Porra, pensou, isto não dá para nada.

3:30 hrs - Carolina no Shopping

                Para não dar muito na vista do que estava fazendo Carolina vez por outra abria a bolsa e fazia de conta que estava procurando alguma coisa. Em seguida, levantava-se e olhava ao redor como se estivesse procurando alguém. Pegava o celular e fingia que ligava, simulava que falava com alguém hipotético e depois desligava o celular.  Tudo mentira porque o celular estava desligado, era pré-pago e estava sem créditos. Carolina, financeiramente, estava na merda.

                Todavia, mesmo com estas camuflagens, não havia ninguém que lhe passasse desapercebido e que não fosse devidamente avaliado para fins dos seus propósitos.  Até agora, no entanto, nada surgira que valesse a pena.

4:00 hrs -Marcelo no Shopping

                Marcelo descera do ônibus próximo do seu destino. A pé veio até o Shopping e foi direto para área de alimentação, precisava de alguma coisa gelada para beber e algo salgado para comer porque não almoçara.

Estava com a boca ressecada pelo susto e pela raiva que passara no ônibus. Não se conformava com o que lhe tinha acontecido e varias vezes pensou nas razões que fizeram acontecer com ele o que aconteceu. Porque existiam pessoas que faziam aquilo com pessoas honestas, que trabalhavam para viver? Não era justo, pensava, foi água abaixo quase todo o meu trabalho honesto de 2 meses. Tenho que começar tudo de novo. Vai ser foda arrumar o dinheiro para pagar o agiota. Ele não vai acreditar que o assalto aconteceu aliás, não está nada preocupado com isto. O problema é meu.

                Depois de pedir o que queria numa das lojas que existem na área de alimentação, Marcelo encontrou uma cadeira e sentou-se. Haviam poucas pessoas lá. Olhou à sua volta para ver se tinha alvos em perspectivas mas, a principio não havia embora já fosse a boa hora.

Depois de algum tempo, enquanto comia, levantou os olhos e, várias mesas depois da sua, em linha reta, viu uma menina sentada com um refrigerante à sua frente. Assim de longe, pareceu que a menina era novinha, coisa de, no máximo, 18 anos, se muito.  Estava muito bem vestida, tipo “patricinha”. Depois que comeu o sanduiche que comprara, observou-a durante um tempo e notou que a “patricinha” devia estar esperando alguém porque demonstrava ansiedade e telefonou algumas vezes mas, de onde ele estava não podia ouvir o teor da conversa. Resolveu então observar mais a menina. Ela poderia ser uma cliente em perspectiva, porque não. Tem muita menininha rica por ai que é solitária, depressiva e que gosta de fazer uma farrinha. De repente arrumo um bom dinheiro e ainda como alguém que preste, pensou.

4:30 hrs -Carolina no Shopping

                Carolina notou um rapaz à sua frente sentado varias mesas depois da sua. Tomava devagar um refrigerante e comia um sanduiche. De onde ela estava, dava prá ver que o rapaz era muito bonito e que aparentava estar bem vestido. Não o havia visto chegar o que era natural dada a distância que existia entre eles.

                O rapaz olhou para ela lá de onde estava. Carolina pensou que talvez ele fosse uma possibilidade para os seus propósitos mas tinha que confirmar. Era necessário se aproximar mais dele para poder avaliar o potencial.

                Carolina abriu sua bolsa para verificar quando tinha de dinheiro. Era muito pouco, algo próximo a R$ 75,00. Isto lhe deu uma tristeza incontrolável. Lembrou-se das vezes que abria a bolsa e via maços de notas de R$ 100,00, cheques e moeda estrangeira. Bons tempos, pensou.   

                Levantou-se da cadeira e foi em direção onde o rapaz bonito se encontrava.

4:30 hrs -Marcelo no Shopping

                Marcelo observou a menina abrir a bolsa, remexer dentro dela e fechá-la. Depois ela levantou-se e, por entre as mesas, veio em sua direção. 

À medida em que ela se aproximava, o rapaz percebeu que a menina era lindíssima. Tinha a pele naturalmente morena, cabelos escuros lisos e compridos que emolduravam um rosto angelical adornado por sobrancelhas escuras bem tratadas e um nariz arrebitado levemente sobre uma boca carnuda de lábios perfeitos.  Quando ela se aproximou mais dele ela, inesperadamente, abriu um sorriso leve deixando a mostra dentes brancos e perfeitos.

Marcelo sentiu um arrepio pelo corpo todo e ficou meio sem jeito com a forma como tudo aconteceu.  Não esperava aquele sorriso e aquele charme todo daquela mulher e, meio sem jeito, depois que ela passou, olhou-a por trás. A visão era linda também. Ela tinha bunda redondinha não muito grande que, ao seu andar, balançava levemente junto com os quadris de forma provocativa. Era um tesão de mulher.

4:40 hrs -Carolina no Shopping

        À medida que andava em direção ao rapaz ela percebeu que ele a observava atentamente. Seus olhos corriam pelo seu corpo todo, dos pés à cabeça e dava para sentir no ar a admiração dele por ela. Sentiu-se segura e caprichou mais no andar e, quando chegou perto, olhou-o nos olhos e deu um sorriso provocante, sentindo que fosse como se tivesse dado um soco na boca do estomago dele. O rapaz, meio boquiaberto, perdeu um pouco a compostura ficando meio sem saber o que fazer dado o comportamento inesperado dela. Carolina passou então por ele e sentiu os olhos dele grudados em sua bunda. Requebrou um pouco, de leve, mas não olhou para trás, sabia do efeito que o seu andar causa nos homens e neste não haveria de ser diferente. Não foi.

Continua na segunda parte em breve.....


One Response so far.

  1. Jef, nem sei se deveria te contar, com relação àquele assunto que discutimos naquele post , +- mês passado. Uma mulher, talvez a mais linda da comunidade, parece que não entendeu bem os nossos argumentos e, apaixonadíssima, me ligou, querendo saber se eu poderia passar o celular de... Você sabe quem, acho que se escrever aquí, todo mundo vai saber. Bem, que seja, mas ela pediu sigilo, não fica espalhando, não conta prá minguém, certo?

    Continua na segunda parte em breve.....

    Prá ninguém, só para tudo mundo, certo? rs rs rs...

    Jef, não sei se te pequei, se Você caiu em minha brincadeira.
    Mas, que maldade, Você interroper o conto assim e, além do mais, ainda não ter publicado a 2ª parte.
    Você está intimado à matar a nossa curiosidade, e pubicar logo a 2ª parte.
    (Parabéns, tomou minha atenção em cada sílaba...)
    Abraço, Edu