Revista de Sacanagens


        Ultimamente quase não tenho lido revistas e jornais bem como não tenho visto telejornais pela televisão. Esta foi uma maneira que encontrei para combater um pouco a minha depressão que sempre se fortalece quando acompanho as coisas que acontecem por este mundo afora e principalmente no nosso país. 

        Meados da semana passada senti uma vontade enorme de ler alguma coisa, qualquer coisa. Não achei conveniente bisar um livro dos que tenho porque não queria ler coisas longas, não estava com saco para isso. Fui então à uma banca de revistas aqui perto de casa. Talvez lá encontrasse algo mais leve, só para distrair, pensei.  

        Entrei e iniciei a pesquisa, com o atendente da Banca me olhando. Olhei aqui, olhei ali e não me motivei a levar nada. Eu estava num mau dia. Tudo me parecia ruim, triste, chato. Quando me dispus a deixar o estabelecimento o atende me abordou.
       - Não encontrou o que procurava, amigo? - Perguntou ele.
       Só para chatear o cara, eu disse: 
       - Eu procurava uma revista de sacanagens mas não encontrei bem o que eu queria. 
       - Que tipo de sacanagem o senhor gosta? Aqui tem de tudo.  
       - Nenhuma especificamente. Gosto de todas as sacanagens. - Respondi ainda brincando com o sujeito que não entendeu ou fez que não entendeu a brincadeira. 
       - O Sr está vendo ali em cima uma revista que tem uma tarja preta na capa e uma figura de mulher pressionando uma tecla do teclado de um computador?
       - Sim, estou mas, meu amigo, esta revista é a "Revista Veja". Eu tinha pensado numa revista de sacanagens. Você sabe, aquelas que tem mulher pelada, contos eróticos, etc. Não a "Veja".
       - Vai por mim - disse o atendente - Leve a revista que o Sr não vai se arrepender. 
       - Ora - insisti - Desde quando a "Veja" é uma revista de sacanagem? No meu conceito a "Veja" é uma das melhores revistas do Brasil aliás, neste particular estamos bem servidos porque temos boas revistas aqui. 
       - Acredite! Leve a revista, leia e depois conversamos. Faz tempo que o Sr não lê a "Revista Veja", eu presumo?
       - Sim, um tempão. 
       - A revista mudou muito.
       - Acredito mas, não ao ponto de se tornar uma revista de sacanagem, eu presumo.
       - Pois é, o Sr vai se surpreender com ela neste aspécto.    

       Pensei um pouco e acabei levando a revista para casa. Chegando lá me dispus a lê-la como sempre fiz no tempo que a lia costumeiramente. Primeira leitura, a última pagina, o ensaio de Roberto Pompeu de Toledo. Esta semana Roberto  escreveu sobre as prováveis mudanças no processo eleitoral brasileiro que estão em gestação na camara federal: O Financiamento de Campanhas Políticas pelo Governo, quer dizer, por nós, e a Lista Fechada de Candidatos a vereador, deputados estaduais e deputados federais, que nos obriga votar no partido dos candidatos e não mais no candidato em si. Li a matéria a qual, como tudo que o Roberto escreve, estava ótima. Nela o Roberto não se posicionou nem contra nem a favor desta ou daquela proposta mas nos deu  informações precisas sobre elas. Começaram as sacanagens, pensei. O Congresso vai decidir sobre estes assuntos. Pensei de novo, vem merda por ai, independente das propostas serem interessantes, o Congresso vai achar uma maneira de estragá-las porque os congressistas não irão aprovar alguma coisa que seja contra eles, mesmo que essa coisa seja a favor do Brasil, só para variar.    

      Segunda leitura, a entrevista das páginas amarelas. O entrevistado da semana foi o Sr Eduardo Paes, digníssimo Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro.  Mais sacanagens sendo reveladas. Pela entrevista o Sr Paes me pareceu uma pessoa sensata que está a fim de fazer algo de bom para o Rio. Ele cita que começou dando "um choque de ordem" para sacudir o município pelas bases. Achei bem bolada a estratégia porque já faz tempo que Rio vem sendo governado por "humoristas", malucos e irresponsáveis que fizeram com que a cidade se transformasse  no que é hoje: insegura, violenta e parada no tempo, longe de ser a Cidade Maravihosa cantada em prosa e versos de então. 

      Passei pela página do Millor, longe do Millor de antigamente, pela seção de cartas dos leitores da Revista, pela seção Blogosfera, Panorama, Datas e Holofote.  Encontrei muitas sacanagens nos textos. Veja:

     - Sérgio Reis pensa em se candidatar a Deputado e o seu primeiro projeto é tornar obrigatório o exame de próstata para todo mundo, homens, é claro. Que idiotice! Só se pensa neste país em obrigar os cidadãos a fazerem isto ou aquilo. Onde está nossa liberdade? Se o homem conseguir o seu intento vão me obrigar a levar um dedo no rabo todo ano. Bom não é? È, mulher, você está rindo porque o problema não é com você.  Na realidade é uma puta sacanagem na medida em que eu sei o que devo fazer com a minha saúde. Eu queria ver o Sérgio Reis explicar para um cara que conheço, um gauchão de 60 anos. Este gauchão poderá até ir preso mas no rabo não toma, de jeito nenhum.   

     - Noticias sobre prováveis sacanagens em licitações. Coisa corriqueira aqui mas nem por isso menos irritante. 

     - Uma matéria explica a sacanagem que o rei Henrique VII da Inglaterra fez com sua mulher no episódio do casamento com Ana Bolena em função da revelação do conteúdo de uma carta da época que até hoje estava oculta. Aquilo foi uma sacanagem das grossas.

     - Troca de comando no exército americano de ocupação  do Afeganistão. Uma puta sacanagem para os paquistaneses. Agora eles terão no pais deles o americano que comandou a prisão do Saddam que irá revirar de novo o país na busca do Bin Laden. 

      - Morre o último marechal brasileiro. A sacanagem não é a morte mas sim o fato de ainda existirem marechais.  

      - Uma matéria sobre o Premier, Gordon Brown, que vive o seu inferno astral no Governo inglês. Lá eles punem quem se lixa para o que a opinião pública pensa.  Um pouco diferente daqui.  

      - Uma matéria sobre o lixador, Sérgio Moraes, na Blogosfera nos dão conta que o volume de sacanagens existentes na revista tendem a aumentar. Me preparo.

      - Em seguida, outra na Blogosfera. Uma matéria sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal  explora alguns aspéctos inconvenientes praticados pelos nossos "mui amigos" políticos defendendo e abusando dos seus privilégios.  Dizem que na esfera federal a lei não pegou. Alguém conhece alguma lei que tenha pego na esfera federal?

      - Cartas e mais cartas expondo as revoltas dos brasileiros com a política em todos os níveis de governo na seçaõ de cartas. Eu sempre gostei da seção de cartas. Uma montanha de sacanagens comentadas e reveladas.    

      Continuei a leitura. A resenha de Lya Luft demonstra um inconformismo com o comportamento da raça humana e as suas sacanagens pelo modo como nos comportamos com relação aos outros seres humanos. Realmente somos sacanas. 

       Na seção Sobe e Desce mais sacanagens. O preço dos genéricos sobe e a Dengue na Bahia também.  Adriane Galisteu desce, Venezuela desce e a Intel, gigante na área de informática, também desce. Como se vê, o que subiu é ruim e o que desceu também é ruim para os envolvidos e, eventualmente, para nós. O que subiu, que é bom, foi a indicação por uma empresa canadense de Roberto Setúbal, o dono do Itaú, como o melhor CEO de banco do mundo. É bom apenas para o envolvido. Para nós não porque, reverenciar uma pessoa como esta é uma sacanagem das grandes porque é fácil se chegar onde chegou já que no Brasil os bancos vivem épocas paradísiacas graças ao Governo Lula que faz tudo o que eles querem para que eles ganhem uma montanha de dinheiro.     

       Cheguei na seção Radar. Por baixo, por baixo, uma dúzia de sacanagens. A principal foi uma notícia sobre Roberto Jefferson, aquele mesmo, o do mensalão. A reportagem diz que o dito cujo enviou uma proposta a José Dirceu que foi prontamente recusada. Teria sido um convite de amizade que, felizmente para nós, não saiu do chão. Ufa! 

       Avanço na leitura. Chego na seção "Veja essa". Prato cheio porque é uma sacanagem atrás da outra. Tirando as citações sobre Gisele Bündchen, Fernanda Montenegro e Chico Buarque o resto é sacanagem pura. Em destaque uma sobre o Sérgio Moraes, o lixador, é uma pérola.

       Finalmente caio nas páginas onde a Veja trata sobre política. Ai o bicho pega porque o nível das sacanagens descritas fica mais pesado. A Governadora do RS, Ieda Crusius, no seu calvário rumo ao "impeachment" se defende acusando a revista por ter revelado o escândalo. Mais documentos e declarações são expostas demonstrando que um caixa dois significativo realmente foi colocado em prática na eleição e, como isto é crime, a coisa chegou no tamanho que chegou. Não deu ainda para sentir o cheiro da pizza, vamos ver.     

       Na reportagen seguinte o Senador Efraim chama todos os brasileiros de burros quando alega "não ter feito nada demais" ao contratar 52 assessores pagos pelo Senado Federal para trabalharem para ele como cabos eleitorais na Paraiba. Realmente esta sacanagem tem um mal cheiro pesado porque não revela apenas maracutaias daquelas que já nos habituamos a ver por parte dos políticos. O que se demonstra são crimes pesados desempenhados por malfeitores todavia, conhecendo o nosso Congresso, é provável que não dê em nada e o homem continue no cargo. Nesta dá para sentir o cheiro de pizza no ar. 

       Em seguida vem o Presidente do Senado, Sarney, querendo explicar o inexplicável. Foi outro que chamou todos os brasileiros de burros. Puxa vida, acho que de tanto nos chamarem de burros, acabo entendendo que somos mesmo. Chega a ser nojento o que se lê na reportagem. Não vou comentar mas, pode crer, é uma sacanagem duca. 

       Li então que o deputado federal Gervásio Silva é "mais um" enrolado na Câmara já que foi acusado de ter estuprado uma funcionária pública. A reportagem é longa e faz referência a atuação do deputado que, segundo a revista, não tem um código de ética e de comportamento digno de um deputado. Faz também referencias ao lixador, Sérgio Moraes, dando a entender que ambos são sacos do mesmo depósito. 

       Viro a página e, de repente, vejo uma foto do Delúbio cujo nome virou substantivo designativo de "mau comportamento". A reportagem é sobre a provável minireforma eleitoral em trânsito no Congresso e diz que, caso a proposta do financiamento de campanha e da lista fechada de candidatos passem no Congresso, estaria criado  um mecanismo que poderia barrar a eleição de candidatos "delubianos" (ele incusive). Esta reportagem não é uma sacanagem como as outras na medida que apenas relata possibilidades relativamente boas caso venham a ocorrer. O problema é que acho pouco provável que que as moções sejam aprovadas. O nosso Congresso não tem o estofo moral necessário para pensar apenas no país. 

       Continuo e vejo a maior de todas as sacanagen publicadas na revista.  Nessa, ela caprichou. Revela que o Governador de Tocantins corre o risco de ser cassado porque teria abusado do poder econômico nas eleições que o elegeu. Se escapar desta e é possivel que escape, terá que enfrentar a Justiça Federal por acusação de desvio de verbas públicas por ter montado ou deixado montar, um esquema milionário de locupretação pessoal dele e da primeira dama (expressãozinha retardada) do estado. O bicho está pegando. Existe denúncia de ex-assessor e o escambal.  É pouco provável que dê tempo do Governador botar a pizza para assar. Vamos ver.   

      Mas a frente descubro outra sacanagem. O Governo esfomeado avança sobre a poupança tributando-a. Se defende dizendo que é apenas para evitar que grandes investimentos trafeguem pela caderneta e ganhem dinheiro às custas do contribuinte já que o juro na poupança tem uma espécie de subsídio. Não é verdade o que o Governo diz porque existem outros meios de coibir abusos. Não precisava taxar e tirar mais dinheiro da população. Até onde eles acham que podem ir, tributando, tributando.

        Em seguida a reportagem "Mouse ao Alto" nos dá uma idéia do que está ocorrendo na internet onde o nivel de crimes cibernéticos tem tendência de alta e, pelo que se vê, a capacidade policial sobre o assunto não é das maiores o que faz com que tenhamos que tomar os maiores cuidados com mais este problema sobre as nossas costas. O assunto é sério e ficará mais para você quando for corriqueiro você conhecer pessoas que sofreram com desvios de dinheiro da conta bancária. Nós somos assim, enquanto ocorre apenas com os outros não é problema mas quando chega até nós, descobrimos que o problema é maior do que pensávamos. A reportagem apresenta nas suas linhas e entrelinhas um desfile de sacanagens, grandes sacanagens que ocorrem aqui e no mundo.

        Leio o resto da revista e encontrom uma ou outra sacanagenzinha como por exemplo, uma análise de alguns programas televisivos de nivel cultural duvidoso mas, nada sério, porque programa de baixo nível, além de ser uma questão de opinião, irá sempre existir na TV mundial.

       Concluo e leitura e constato que, realmente, a Revista Veja é uma REVISTA DE SACANAGENS face o volume de coisas sacanas que ela revela e explora. O cara da banca de revistas tinha razão.  As revistas tidas como "de sacanagens" que se cuidem, irão perder mercado basta os seus leitores descobrirem o que acabo de descobrir. 

       A minha depressão me ronda. Esta leitura não me fez bem. Eu devia ter comprado uma revista de sacanagens autêntica, teria sido melhor para mim e para você que está lendo a matéria. Desculpe, eu não tinha a intenção de deprimi-lo assim como estou. 

       Ainda pego aquele cara da banca. Ele vai ver.

       Abraços. 
 
          

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One Response so far.

  1. AC says:

    Olá Jeferson,
    Excelente matéria divulgando sobre a triste situação dos brasileiros. Realmente a alcunha de "Burros" cabe direitinho, já que todas as informações estão disponíveis em todos os meios de comunicação (jornais, revistas, televisão, internet, etc.) e continuamos a permitir que alguns poucos (que aumentam em número continuamente) continuem a nos ROUBAR E SACANEAR sem que façamos absolutamente nada.
    Contentamo-nos em escrever "metendo o pau", fazendo denúncias e chamando-os de desonestos, "filhos da mãe sem-vergonha", etc. e tal.
    Nada disso irá resolver. Há de chegar o momento em que todos nós, juntos e numa só vontade e determinação, daremos um BASTA a tudo isso que nos deixa com vergonha.
    Abraços do

    Antonio Carlos